Exclusivo: Entrevista com Dr. Angelo Guarçoni: Avanços no Tratamento de AVC Agudo no Hospital Rio Doce
No último dia 26 de maio de 2025, o Hospital Rio Doce, localizado em Linhares, norte do Espírito Santo, foi palco de um atendimento de urgência que destacou a eficiência da equipe médica no tratamento de AVC agudo. O caso, que envolveu um paciente com fibrilação atrial e insuficiência cardíaca, foi um exemplo claro de como a rápida resposta e a técnica avançada podem salvar vidas. O tratamento de AVC agudo exige precisão, agilidade e uma equipe bem treinada, e o Hospital Rio Doce tem se destacado nesse contexto, com procedimentos como a trombectomia mecânica.
O neurocirurgião Dr. Angelo Guazzoni, líder da equipe médica, esteve à frente desse atendimento e, além de relatar como foi a ação rápida e eficennte da equipe méidca que atendeu o pacinte, trás um alerta, a urgência da implantação de uma Unidade de Tratamento de AVC na Região Norte do Espírito Santo.
Mesmo sem esta unidade, a equipe médica com sua capacidade técnica e profissionalismo, conseguiu proporcionar uma recuperação significativa para o paciente, que havia sofrido um AVC de grande repercussão. A seguir, o Dr. Angelo compartilha conosco os detalhes desse caso e as perspectivas para o futuro do tratamento de AVC no Espírito Santo.
Radar Capixaba: Dr. Angelo, você poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória e como chegou a se especializar no tratamento de AVC?
Dr. Angelo Guazzoni: Minha formação como neurocirurgião começou com a vontade de tratar condições graves e complexas, como o AVC. Em 2018, ao chegar em Linhares, percebi a necessidade de desenvolver um atendimento especializado, principalmente em casos de AVC agudo. O Hospital Rio Doce tem se dedicado a isso, proporcionando um atendimento de qualidade para a população da região norte do Espírito Santo. A especialização no tratamento de AVC surgiu justamente para poder oferecer aos pacientes a chance de uma recuperação significativa, com a mínima sequela possível.
Radar Capixaba: O que é o tratamento de AVC agudo e por que ele é tão importante?
Dr. Angelo Guazzoni: O AVC agudo ocorre quando há uma obstrução nas artérias cerebrais, o que impede o fluxo sanguíneo para o cérebro. O tratamento rápido é fundamental porque o tempo é um fator crucial. Quanto mais cedo agirmos, mais chances o paciente tem de se recuperar sem sequelas graves. A trombectomia mecânica, que foi realizada no caso de 26 de maio, é um exemplo de tratamento avançado, onde removemos o trombo diretamente da artéria para restabelecer o fluxo sanguíneo no cérebro. Quanto mais rápido o tratamento, melhores são as chances de recuperação.
Radar Capixaba: Recentemente, em 26 de maio, vocês trataram um caso de grande complexidade no Hospital Rio Doce. Pode nos contar mais sobre esse caso e como a equipe conseguiu salvar o paciente?
Dr. Angelo Guazzoni: Sim, no dia 26 de maio, um paciente com fibrilação atrial e insuficiência cardíaca foi admitido no hospital com um AVC isquêmico de grande repercussão, apresentando hemiplegia, afasia e sonolência. O paciente estava sob anticoagulação plena, o que o impedia de ser tratado com trombolíticos. A única opção terapêutica era a trombectomia mecânica. Realizamos uma tomografia de crânio imediatamente, confirmando a presença de um trombo na artéria cerebral média. Conseguimos realizar a trombectomia em menos de duas horas após a evolução dos sintomas. O procedimento foi bem-sucedido, restabelecendo mais de 70% do fluxo sanguíneo no cérebro, o que resultou numa recuperação clínica significativa do paciente, que hoje se encontra estável.
Radar Capixaba: Quais foram os principais desafios enfrentados durante o tratamento desse paciente específico?
Dr. Angelo Guazzoni: O maior desafio foi a rapidez na decisão e na execução do procedimento. A trombectomia mecânica requer precisão e tempo, já que a janela para intervenção é muito estreita. Outro ponto crítico foi a condição do paciente, que estava em uso de anticoagulantes, o que impedia o uso de trombolíticos. A equipe teve que agir muito rápido para garantir que a cirurgia fosse realizada dentro do tempo ideal para restabelecer a circulação cerebral, o que foi essencial para o bom desfecho.
Radar Capixaba: O que diferencia o tratamento de AVC agudo em uma unidade especializada, como a que vocês estão propondo no Hospital Rio Doce?
Dr. Angelo Guazzoni: A diferença está em nossa abordagem rápida e integrada. Com uma equipe especializada, conseguimos fazer o diagnóstico e a intervenção de maneira quase imediata. No caso de 26 de maio, por exemplo, a mobilização da equipe foi fundamental. Temos neurologistas, neurocirurgiões, hemodinamicistas, enfermeiros e técnicos que atuam de forma coordenada, o que possibilita uma resposta rápida e eficaz, diminuindo significativamente as chances de sequelas. Essa estrutura é um dos principais diferenciais no tratamento de AVC.
Radar Capixaba: Como você vê o futuro do tratamento de AVC no Espírito Santo e qual o impacto que isso pode ter para a população?
Dr. Angelo Guazzoni: Acredito que, com a implantação de unidades especializadas, como a que estamos propondo no Hospital Rio Doce, a população terá acesso a tratamentos modernos e eficazes. Esse avanço não só salvará mais vidas, como também reduzirá as sequelas de muitos pacientes. Com o apoio das autoridades e o investimento em infraestrutura e treinamento, podemos tornar o Hospital Rio Doce uma referência não só para a região norte do Espírito Santo, mas para todo o estado.
Radar Capixaba: Quais são os maiores desafios para implementar uma UTI de AVC na região Norte do Espírito Santo?
Dr. Angelo Guazzoni: O maior desafio, sem dúvida, é garantir o financiamento necessário para implementar uma estrutura tão especializada. Além disso, precisamos formar uma rede integrada de cuidados que envolva o estado, os municípios e a equipe médica. Estamos trabalhando para superar esses obstáculos, e a resposta positiva que temos recebido da comunidade e das autoridades nos dá a certeza de que estamos no caminho certo.
Radar Capixaba: O que o Hospital Rio Doce está fazendo para garantir que os pacientes de AVC recebam o melhor tratamento possível?
Dr. Angelo Guazzoni: Estamos constantemente investindo em treinamento da equipe, em infraestrutura e na implementação de protocolos modernos para o tratamento de AVC. Estamos também trabalhando para ampliar a estrutura da UTI, criando mais leitos e equipando ainda mais nossa hemodinâmica, que é essencial para os procedimentos de trombectomia. Além disso, temos uma comunicação constante com as autoridades para garantir os recursos necessários para atender a toda a população.
Radar Capixaba: Como você vê o papel da comunidade e das autoridades na implementação dessa unidade de AVC?
Dr. Angelo Guazzoni: A comunidade tem sido muito receptiva ao nosso trabalho, e isso nos motiva ainda mais. Já as autoridades, especialmente o deputado Bruno Rezende e o secretário de Saúde, têm sido fundamentais para que esse projeto se torne realidade. A colaboração entre a iniciativa privada e o governo será essencial para garantir que essa unidade funcione de maneira plena e beneficie a população.
Radar Capixaba: Quais são os próximos passos para o desenvolvimento do tratamento de AVC no Hospital Rio Doce e no Espírito Santo?
Dr. Angelo Guazzoni: Nosso principal foco agora é consolidar a unidade de tratamento de AVC e ampliar a rede de atendimento a pacientes com AVC agudo. Queremos, em um futuro próximo, oferecer a toda a população do estado a possibilidade de ter acesso a um atendimento de qualidade. Para isso, seguimos com o desenvolvimento de parcerias, treinamento contínuo e buscando a ampliação da infraestrutura para garantir o sucesso desse projeto.
Quadro: Situação Atual dos Casos de AVC na Região Norte do Espírito Santo
População da Região Norte |
População Estimada: Aproximadamente 1.000.000 de habitantes.
A região inclui municípios como Linhares, São Mateus, Aracruz, Colatina, entre outros. |
Incidência de AVC |
Taxa média de AVC: 200 casos por 100.000 habitantes por ano.
Casos anuais estimados: 2.000. Casos mensais estimados: 166,7. Casos diários estimados: 5,56. |
Sequelas e Incapacidades |
70% dos pacientes sobreviventes desenvolvem algum grau de sequela.
1.400 pacientes por ano. 50% dos pacientes tornam-se dependentes para atividades básicas. 1.000 pacientes por ano. |
Impacto Econômico: Custo para o SUS (Sistema Único de Saúde) |
R$ 10,3 milhões por ano.
Custo para o RGPS (Regime Geral de Previdência Social): R$ 12,9 milhões por ano. Total aproximado: R$ 23,2 milhões anuais. |
A ausência de uma Unidade de Tratamento de AVC na Região Norte do Espírito Santo: |
Impacta mais de 5 novos pacientes por dia.
Gera 1.400 novos casos com sequelas por ano. Resulta em custos superiores a R$ 23 milhões por ano. |
A implantação da unidade de tratamento de AVC representa uma ação técnica e econômica essencial para a região, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e reduzindo os custos futuros para os sistemas de saúde pública e privada.
A urgência de Unidade de Tratamento de AVC
Esse quadro é um reflexo claro da urgência e necessidade da criação de uma Unidade de Tratamento de AVC na região. Ele não só destaca o impacto social e médico, mas também enfatiza o peso econômico que os casos de AVC causam ao sistema de saúde estadual e nacional. A implantação dessa unidade é crucial para fornecer um tratamento adequado e diminuir as sequelas e custos no longo prazo.
Profissionais envolvidos no atendimento ao caso (26/05/2025):
Dr. Angelo Guaçoni – Neurocirurgião e líder da equipe
Dr. Dario Santuchi – Médico responsável pela avaliação inicial do paciente
Dr. Raphael Galvão – Hemodinamicista
Ieda e Mayara – Técnicas de plantão na hemodinâmica
Mariane – Enfermeira-chefe da hemodinâmica
Equipe da UTI Coronariana – Responsável pelo acompanhamento pós-procedimento