Episódio Bebianno deixará sequelas
A condução do episódio Bebianno deixará sequelas. Foi conduzido de forma amadora. Se um presidente perde a confiança em ministro é só fazer o que o Geisel fez com o general Frota, seu ministro da Guerra. Chamou-o, disse que eles não se entendiam e o exonerou. Simples.
Nada de arrastar uma situação ruim por tanto tempo. Se Bebianno tem denúncias, que as faça. Inaceitável foi à negociação sobre cargo em Itaipu e embaixada na Itália. Decepcionante foi o acordo que levou o presidente a gravar mensagem laudatório sobre seu ministro.
Bastava uma carta de agradecimento, quando muito. Também parece claro que a garotada do Bolsonaro está falando de mais. Na política a palavra é dada para esconder o pensamento. Governo é governo e família é família.
Nisso tudo, o clima de um presidente operado pela terceira vez, inquieto com os rumos de sua saúde, correndo risco de morte e tendo ao ouvido o filho Carlos pedindo cabeças decepadas. Agora é hora de ciscar para dentro, erigir uma coordenação política firme e partir para as reformas. Elas não passarão fácil. O Brasil não é Suécia.
A caixa preta da Previdência precisa ser escancarada. Reduzir despesas ali é ambicioso. Mas não para sobrar dinheiro para reforçar o caixa dos bancos e do mercado. Bolsonaro parece ter essa sinalização.
Mas o governo se transforma numa torre de babel, todos dando palpites. Chegou a hora de um freio de arrumação.
O Brasil não mais aguenta esse crescimento econômico medíocre e a continuação do fechamento de unidades comerciais e industriais. O governo precisa investir em programas arrojados para infraestrutura.
A herança recebida pelo novo governo é dramática. Planos ortodoxos não nos parecem razoáveis. O dinheiro precisa circular com rapidez.
No Chile os fundos privados de aposentadoria enriqueceram especuladores e quebraram o pagamento dos aposentados. Dar um remédio forte demais pode matar o doente.
Bolsonaro tem seis meses para dizer para que veio.
Construiu um governo militar para sua base de apoio extraconstitucional. Tem a imprensa contra. Não tem base firme parlamentar.
Por temperamento o presidente fala o que pensa. Ouve alguns generais e a filharada. Esses querem ajudar o pai. Mas de boas intenções o inferno está cheio.
Antônio Carlos Pimentel Mello – Advogado