Sinais dos bastidores apontam para a eleição mais indefinida do ES em 2026
Por, Ronaldo Almeida
O segundo semestre de 2025 abriu um movimento raro na política capixaba. A base do governo, sempre conhecida por funcionar de forma controlada, mesmo com forças ainda desproporcionais, entrou em conflito aberto sobre quem deve disputar o Palácio Anchieta em 2026.
Hoje, uma sucessão que parecia previsível virou uma disputa interna que já preocupa aliados de Renato Casagrande.
Ferraço e Arnaldinho: a disputa que cresceu além do planejado
Para o mercado político, mesmo que contra a vontade, o governo tem dois nomes fortes e nenhum deles dá sinais de recuar.
Ricardo Ferraço, vice-governador, é figura tradicional, articulada e vista por anos como o sucessor natural do projeto de Casagrande.
Já Arnaldinho Borgo, prefeito de Vila Velha, ganhou projeção regional, força nas redes e assumiu o comando do PSDB, criando um novo polo de atração dentro da própria base. Sua presença mudou a dinâmica sucessória do Palácio Anchieta, pois parte da base começa a enxergá-lo como a renovação do grupo, outra o vê como risco, e muitos passaram a considerá-lo mais competitivo que o vice em 2026.
A conta é simples; o resultado, nem tanto, pois ao final só pode haver um candidato do governo, e a disputa que antes era quase velada deixou de ser discreta, ampliando o trabalho dos bombeiros de plantão.
O desafio real de Casagrande
A situação coloca Casagrande diante do teste político mais difícil deste novo ciclo.
O problema não é simplesmente escolher entre Ferraço e Arnaldinho.
O problema é escolher sem perder o consenso e a união do grupo governista.
Se ele anunciar Ferraço sem pacificar a base, força uma ruptura que empurra Arnaldinho.
Se optar por Arnaldinho sem ajustar o MDB e aliados históricos, cria uma fissura imediata em torno do vice e de lideranças tradicionais.
O risco não está em escolher “A ou B”, mas em escolher e deixar metade da base do outro lado do balcão.
E isso, num cenário apertado, é exatamente o tipo de divisão que pode favorecer o principal adversário.
A equação PT
A equação fica ainda mais delicada porque o PT sinaliza a intenção de disputar com candidatura própria. Se levar esse plano adiante, tira votos naturais do candidato do governo, justamente no momento em que a base casagrandista mais precisa estar unida.
Casagrande sabe que o custo de uma escolha mal articulada é maior que o de qualquer silêncio temporário.
A vantagem de Pazolini
O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, pelo menos por ora, segue em seus movimentos com uma importante vantagem. Enquanto o governo tenta administrar o próprio incêndio, Pazolini avança sem precisar enfrentar ou administrar nenhuma disputa interna. Ele é, e permanece, sendo o principal nome do seu grupo político para disputar o Governo do Estado em 2026.
Não tem rival no seu campo, não tem ruptura e nem facções brigando por espaço.
Essa unidade, que nunca foi uma marca do campo conservador capixaba, dá a ele tranquilidade para organizar sua pré-campanha enquanto observa o governo em uma disputa interna.
No atual cenário, estar sozinho no próprio terreno é uma vantagem estratégica.
A esquerda tenta voltar ao jogo
O PT decidiu voltar ao debate estadual com Hélder Salomão, buscando recuperar voz e presença política. O partido sabe que só será competitivo se houver desgaste do governo, mas também sabe que, ao insistir em candidatura própria, tira votos essenciais do candidato do Palácio Anchieta.
É um movimento legítimo, mas que amplia o desafio de Casagrande, que, além da disputa interna e da sua própria campanha ao Senado, que contará com o apaziguamento caseiro, precisa evitar que a esquerda fragmente ainda mais o campo que sempre o sustentou.
Outras peças em movimento
O PSD, presidido no Estado pelo prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos, trouxe um elemento a mais para o debate, pois hoje acomoda o enigmático ex-governador Paulo Hartung no tabuleiro.
E qualquer sinal, gesto ou frase do ex-governador pode ser capaz de mexer ainda mais no já embolado xadrez político.
Em Cariacica, Euclério Sampaio se posiciona como peça importante na formação de palanques e tem aventado candidatura ao Senado, o que, de certa forma, pode ajudar na coesão do grupo em torno de um único projeto.
O que esperar de 2026
A disputa caminha para três blocos:
1 – O nome do governo: Ferraço ou Arnaldinho, levando consigo o peso do racha interno ou a união da base em torno de um único projeto, mesmo que essa união aconteça no segundo turno.
2 – O campo conservador: Hoje organizado em torno de Pazolini, sem conflitos internos.
3 – A esquerda: Com o PT tentando voltar ao debate e podendo influenciar diretamente o resultado final.
A eleição de 2026 no Espírito Santo está aberta.
A principal decisão, a escolha do candidato do governo, continua nas mãos de Renato Casagrande.
E, até que ele consiga construir um consenso real, todo o sistema político capixaba segue com a respiração em suspenso.
Ronaldo Almeida: Jornalista e Consultor Político

