Prefeito de Linhares é denunciado por ter fazenda que invadem terras indígenas
O nome do prefeito de Linhares Bruno Marianelli, aparece na lista de políticos ligados a invasões de terras indígenas em diversos estados do país, listados no dossiê “Os Invasores – Parte II – Os Políticos”, publicado pelo De Olho nos Ruralistas – Observatório do Agronegócio no Brasil.
De acordo com o Observatório que monitora, faz denúncias e levantamentos de invasões de terras indígenas em todo o país, o estudo concluiu que das 1.692 sobreposições de fazendas em terras indígenas – exposto na primeira parte do dossiê, publicada em abril –, “42 pertencem a clãs políticos nacionais e regionais [que], juntos, concentram 96 mil hectares em áreas sobrepostas a TIs — o equivalente à soma das áreas urbanas de Rio de Janeiro e Belo Horizonte”. O Mato Grosso do Sul lidera entre os estados, com 17 casos, seguido de Mato Grosso e Maranhão, com sete cada.
Prefeito de Linhares
De acordo com o relatório a classe política que tem a maior quantidade de infratores netas invasões estão no Congresso Nacional, mas as invasões de terras indígenas também envolvem prefeitos de várias regiões do país. No Espírito Santo, figura na famigerada lista o atual gestor de Linhares, no norte do Estado, Bruno Margotto Marianelli (Republicanos), que assumiu o cargo após Guerino Zanon (PSD), de quem era vice, desistir do cargo para concorrer ao governo do Estado, no ano passado.
Segundo apuração do Observatório do Agronegócio, a fazenda do prefeito linharense, Flor do Norte, está registrada em nome de seu pai, Zilmar Marianelli (já falecido), e possui 273,27 hectares sobrepostos à TI Comexatibá, do povo Pataxó, no município de Prado, extremo sul da Bahia. “Em posse da família pelo menos desde 2010, as terras não aparecem entre os R$ 332 mil em bens declarados por Bruno durante as eleições de 2020”, acrescenta o documento.
Bruno Marianelli também é apontado como membro de um grupo de fazendeiros que lidera a formação de uma rede de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) na região, como forma de evitar tanto a delimitação do território Pataxó quanto a ampliação do Parque Nacional do Descobrimento (PND). A RPPN de Marianelli foi criada em 15 de janeiro de 2010 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da TI Comexatibá, apresentado em 2006 pelas antropólogas Leila Silvia Sotto-Maior e Sara Braga I Gaia, cita o dossiê, “mostra que a proposta de manejo do entorno do PND apresentada pelos fazendeiros considerava como principal ameaça ao ambiente a ‘invasão pelos índios Pataxó’, ao mesmo tempo em que pintava os proprietários rurais como defensores do parque — apesar do farto histórico de desmatamento na região” e que “entre os proprietários que compuseram a iniciativa, o relatório lista Dionísio Marianelli, parente do prefeito capixaba”.
As 72 páginas do dossiê listam vários outros parlamentares e prefeitos que atuam com veemência no ataque aos direitos dos povos indígenas e na criminalização de movimentos sociais que buscam a justiça fundiária no Brasil.
Com bases nos dados levantados, o Observatório pergunta:
“Quem são os reais invasores de terras no Brasil?
Os movimentos populares que lutam pela reforma agrária e pela demarcação de terras indígenas, direitos consagrados na Constituição de 1988? Ou os grileiros que invadem milhões de hectares na Amazônia, no Cerrado e nos demais biomas brasileiros?
O que impacta mais a segurança pública e o ambiente: a ocupação temporária de poucos hectares dentro de fazendas improdutivas, buscando provocar uma reação política do Estado, ou mega invasões de áreas públicas, em geral acompanhadas de desmatamento, com fins meramente especulativos?”
Fonte: Século Diário