Curada da Covid-19, técnica de enfermagem da Prefeitura volta ao trabalho inspirada: ‘Muito mais amor aos pacientes’
Recuperada após mais de 15 dias em estado grave com Covid-19, a técnica de enfermagem Adriana da Silva Euzébio, de 44 anos, está curada e voltou a ocupar sua posição na linha de frente do combate à doença na Unidade de Saúde ‘Êxodo Félix – Guerrinha’, no bairro Araçá, nesta segunda-feira (3).
Adriana ficou cinco meses afastada das funções para dar continuidade ao tratamento em casa e passar por apoio psicológico. Ela foi recebida pelos colegas de trabalho da ESF Aviso I com cartazes de motivação, balões e um bolo com decoração do seu time do coração, o Flamengo.
Durante os mais de 15 dias, a profissional de saúde trocou de lugar com os pacientes de quem cuidava e se viu acamada, com falta de ar, febre e dor no corpo, em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Roberto Silvares, em São Mateus. Adriana diz que a internação foi difícil, mas serviu para ela compreender o verdadeiro valor da própria profissão.
“Acaba sendo um aprendizado. Se já era uma boa profissional, volto com muito mais amor aos pacientes, independentemente se estão em isolamento ou o que for, porque percebi que é muito importante essa atenção que a gente dá para o paciente”, diz.
Recuperada, Adriana faz questão de endossar ainda mais o alerta para toda a população de Linhares.
“Como técnica de enfermagem peço para que as pessoas entendam a seriedade desta doença. Que parem de ficar aglomerados, usem máscaras, lavem as mãos sempre, usem álcool em gel, não visitem parentes, não viajem sem necessidade e se puder, fiquem em casa, pois os profissionais da saúde estão na linha de frente por vocês”, completa.
Para a coordenadora da UBS do Araçá, Adelma Dias dos Santos Rosa, o retorno da colega ao trabalho não poderia passar em branco.
“Ela passou por momentos difíceis e merecia esse alento. Ela é uma guerreira, cuida do filho, da família, por isso foi gratificante ver que ela superou tudo isso. A parte boa é que Adriana pôde contar com o suporte dos colegas de trabalho nesse momento”, afirmou a enfermeira.
Internação
Adriana começou a sentir os primeiros sintomas do coronavírus na segunda quinzena de abril, enquanto trabalhava. Ela esperou terminar o plantão e, antes de voltar para casa decidiu passar na Unidade Sentinela, que ainda funcionava na UPA 24 horas, no Shell.
Com dor no corpo e febre de 39°C, a técnica de enfermagem fez exame de sangue, que descartou a possibilidade dos sintomas estarem relacionados à dengue, e raio-x do pulmão, que revelou alterações nos alvéolos e indicou a possibilidade de infecção por Covid-19.
“Foi muito difícil acreditar que eu, usando todos os equipamentos de proteção que o Município deu, adquiri essa patologia”, diz. “As pessoas não estão dando fé, porque só estão vendo falar na televisão e no círculo delas não está acontecendo. Só vão acreditar quando acontecer com elas.”
Recuperação
A técnica de enfermagem ficou internada por exatos 18 dias na UTI do Hospital Roberto Silvares, em São Mateus. Depois, ficou mais alguns dias em observação em um leito de enfermaria, até receber alta no no último dia 11 de maio.
“Tive certeza de que iria morrer. Era o único pensamento que tive, por tanto sofrimento respiratório”, afirma. “Era um desespero. Por trabalhar na área da saúde, conhecer os procedimentos e ver pacientes conscientes afundando em questão de segundos, o medo era muito grande.”
Em meio às incertezas e ao medo de deixar a família, Adriana diz que encontrou no contato com os próprios colegas de profissão a força necessária para se manter esperançoso e enfrentar as dificuldades da doença.
“Percebi o tanto que é importante uma pessoa, mesmo em isolamento, ser cuidada. Eu não conseguia nem ver o rosto deles direito, de tanto equipamento que estavam usando, mas eles conversavam e encostavam em mim. Isso é muito importante. Te passa uma segurança maior”, diz.
Cinco meses após de ter recebido alta, a profissional acredita que, apesar das dificuldades, a internação foi inspiradora. Diferente de qualquer outro paciente, ao cruzar a porta de saída da UTI, Adriana já queria voltar. Desta vez, como técnica de enfermagem, para poder ajudar outros pacientes a vencer o coronavírus.