Casal de Povoação cria escola de bodyboard para tirar jovens do caminho do crime
Povoação, vila pesqueira e cacaueira do litoral norte capixaba, tem as melhores ondas para a prática do bodyboard do Espírito Santo.
No entanto, esse potencial sempre foi tratado com indiferença e até descaso pelos poderes públicos. Mas a garotada da vila não está nem aí. Depois que aprende a andar e a correr, o próximo passo é se aventurar nas agitadas ondas da praia local. Afinal, trata- se de uma atividade esportiva extremamente simples e acessível a todos.
Mas não é bem assim. Como a maioria dos esportes radicais a prática inadequada do bodyboard pode causar lesões graves e até a morte. Além disso, sem estímulo, os jovens logo abandonam o esporte, se afastando do oceano e partindo para caminhos em que os riscos são bem mais perigosos que as ondas.
Preocupados com a segurança e com o futuro dos meninos e meninas de Povoação, um casal decidiu montar uma escola, criando a Associação de Bodyboard de Povoação, que iniciou suas atividades a cerca de cinco meses e que já conta com um grupo de 25 alunos. As aulas, que acontecem aos sábados, são gratuitas.
Praticante da modalidade há 30 anos, Alexandro Eduardo Pratti tomou a iniciativa inspirado em outras instituições voltadas para o ensino de bodyboard, como o Instituto Neymara de Carvalho, da Barra do Jucu.
Disposto a surfar nos sonhos da meninada local ele conta com apoio da mulher, Fátima Regina Leite, que cuida da parte comprometida em construir uma base de consciência ambiental entre os alunos. Sabem que o desafio de conduzir o projeto, é tão ou mais arriscado do que as gigantescas ondas de Povoação.

“Nossa meta principal não é de formar atletas, mas de pelo menos ajudá-los a se comportar como atletas, com ética, caráter e respeito”, argumentou Alexsandro, 46 anos, que começou a pegar ondas em Jacaraípe, onde residia, até conhecer Povoação e Fátima, moradora nativa da vila. As ondas de Povoação caíram nas graças dos praticantes de esportes aquáticos na década de 1980, quando surfistas e bodyboarders de todos os cantos do estado faziam romaria em direção àquela parte do litoral de Linhares.
Com o tempo, entretanto, as ondas foram se consolidando como quase que exclusivas do bodyboard. Várias competições importantes foram realizadas na praia, sendo que a última, o Povoação Bodyboarding Festival, que aconteceu em novembro do ano passado, valeu pela quarta etapa do circuito brasileiro da modalidade, evento que atriu os principais atletas de bodyboard do país.
Alexsandro sabe que será difícil formar campeões, mas se empolga com a vocação e o talento de vários dos alunos, meninos e meninas com idades entre 10 e 17 anos, que assimilam muito bem os fundamentos do esporte.
As aulas acontecem ao ar livre, em frente à cabana do Bento Rigotti. A programação inclui alongamento, conscientização ambiental, aula teórica e aula prática no mar. O plano de trabalho também inclui palestras com atletas experientes como Ricardo Sossai, uma das lendas do esporte no Espírito Santo.
“Praticar bodyboard não é tão simples assim. O atleta tem que conhecer fundamentos técnicos que são obrigatórios para o bom desenvolvimento do esporte e para a segurança”, disse Sossai.
A principal preocupação de Alexsandro e Fátima, no momento, é de correr atrás de um patrocínio que possa bancar o custo do projeto. Afirmam que apesar de estarem dispostos a dedicarem o tempo voluntariamente em prol da iniciativa, não podem bancar os custos do material necessário, como pranchas, roupas e acessórios.
“Mas estamos confiantes. Há 20 anos muitos meninos como estes acabaram se desviando para o caminho da criminalidade e alguns até foram mortos. Isto aconteceu por falta de uma iniciativa assim, afirma Fátima.