Exclusivo: Senador Marcos do Val, um dos mais destacados parlamentares do país em atuação, falou com exclusividade ao Radar Capixaba

Por Ronaldo Almeida:

Eleito Senador em 2018 com 863.359 votos, o capixaba Marcos do Val (Podemos), aos 48 anos, segue em seu primeiro mandato, se destacando como um dos parlamentares mais proeminentes do país, tanto em visibilidade como em atuação no senado.

Sua atuação tem chamado muita atenção da imprensa e da população, principalmente na defesa do Pacote Anticrime do Ministro da Justiça Sergio Moro, do qual foi elogiado pessoalmente nas pelas redes sociais.

Aliado de primeira linha do presidente Jair Bolsonaro, o Senador que é um grande defensor da prisão em segunda instância, falou nesta entrevista sobre os momentos turbulentos que vive Brasília e os reflexos que isso pode causar ao país.

Critico mordaz do posicionamento político que tem adotado o Supremo Tribunal Federal (STF), o senador capixaba também falou da interferência da mais alta corte do país nas pautas do Legislativo Nacional, da dificuldade que o presidente Jair Bolsonaro enfrenta por não ter loteado Ministérios e da interferência dos filhos do presidente no mandato do pai.

Radar Capixaba: Apesar do grande apelo pela prisão em segunda instância, vemos muita resistência por parte do parlamento e do Senado em aprovar o pacote anticrime do Ministro Sérgio Moro. Porque tem acontecido isso?

Marcos do Val: Bom, só pra esclarecer que o pacote foi aprovado, passou pelo congresso e agora está na sansão do presidente, claro, com pedido de alguns vetos, alguns jabutis, que foram colocados, perigosos e que o presidente vai retirar, mas na sua totalidade, 80% do pacote anticrime proposto pelo Ministro Sérgio Moro, foi aprovado no congresso, isso graças a pressão popular da sociedade e graças aos novos Senadores e Deputados Federais, que chegaram aqui, com essa missão de fazer diferente.

Radar Capixaba: Após o Presidente Jair Bolsonaro (PSL), confirmar que vai trocar de partido, o senhor acredita que isso pode atrapalhar a governabilidade dele junto ao congresso?

Marcos do Val: Não vejo que irá atrapalhar, até porque a posição que ele estava no (PSL) e por ele não ter feito um loteamento dos Ministérios, ter colocado Ministros técnicos e não políticos e não entregando para partido A ou B, ou Ministério A ou B.

Ele não ficou forte no congresso politicamente, ele ficou enfraquecido, até a própria sociedade está entendendo que o governo Bolsonaro está fraco, mas não, ele está enfraquecido exatamente por ele não ter loteado os Ministérios e ter colocado Ministros Técnicos, então inicialmente, vai haver uma retaliação de partido, vai haver uma morosidade, uma falta de interesse de partidos porque não ganharam a sua fatia do bolo e isso é uma quebra enorme tradicional em Brasília, que gerava muita corrupção e muito gasto público, então foi um avanço muito grande, agora tem suas consequências essa morosidade e essa falta de “interesse”, dos antigos, dos políticos de carreira, em não querer aprovar os projetos do governo, por retaliação de não ter feito aí a sua fatia do bolo, não ter passado para o partido A ou B, alguns Ministérios, então vejo isso muito positivamente e a sociedade precisa entender porque que o governo aparentemente está enfraquecido no congresso.

Radar Capixaba: Muito se critica a comunicação do Governo Federal e principalmente a interferência dos filhos dele, nesta área. Qual sua opinião sobre este assunto?

Marcos do Val: Eu vejo como uma estratégia até do próprio Presidente, tocar em assuntos polêmicos, ser o que ele sempre foi, uma pessoa muito polêmica, não ponderada nas suas respostas, pra que os Ministros possam estar trabalhando de forma sossegada, porque aí a imprensa, a população e a sociedade vão estar focadas e comentando sobre as falas polêmicas do presidente, deixando assim os Ministros trabalharem com mais liberdade, agora a questão dos filhos, realmente é uma interferência infeliz, é um interferência não saudável para o governo, tem atrapalhado muito.

Recentemente a gente percebeu que até por conta da saída do Carlos Bolsonaro das redes sociais e depois o próprio Presidente não insistindo na indicação do Eduardo Bolsonaro na embaixada dos Estados Unidos, os filhos recuaram e não estão fazendo mais postagens ou falas polêmicas e deixando assim o governo um pouco melhor.

Radar Capixaba: O senhor se elegeu pelo (Cidadania) depois mudou para o (Podemos), existe a possibilidade de acompanhar o presidente no novo partido que ele está criando? Por quê?

Marcos do Val: Não, não há esta possibilidade, apesar de ter sido sondado pelo Flávio Bolsonaro, mas eu deixei claro que eu cheguei no (Podemos) agora, e é um partido que está me dando liberdade, é um partido que pensa como eu, ou seja, o Brasil hoje está sendo pilotado pelo Jair Bolsonaro e eu não quero que esta aeronave caia, eu não quero, porque tenho família, parentes, amigos e todos os outros a bordo, então eu tenho que ajudar para que essa aeronave atinja seu objetivo, então eu sou totalmente contra a oposição por oposição, por não querer que o país atinja seu objetivo, pra que o atual piloto desta aeronave, o Presidente, não tenha seus louros, suas glórias ou pense que ele vai permanecer no poder.

Então é uma briga muito grande de poder e nenhum interesse efetivamente no resultado em benefício da sociedade, isso me deixa muito revoltado e eu sou contra qualquer partido que faz oposição por oposição.

Uma coisa é você não concordar com algumas pautas, assim como eu faço, várias pautas do governo, eu sou favorável, outras eu sou contra, então eu tenho essa liberdade, inclusive, tenho essa liberdade por não ter feito uso da verba partidária, de ter feito uma campanha com meus recursos próprios, então isso me dá uma liberdade total, não viro refém do partido e o (Podemos) tem me dado uma liberdade de continuar pensando da forma como penso, ou seja, representando o desejo da sociedade capixaba.

Estou aqui, não colocando as minhas convicções, as minhas crenças, estou aqui representando as convicções e os desejos da sociedade capixaba, eu sou um mero representante que a sociedade capixaba com muita confiança me deu de forma simbólica, uma carta branca para poder representa-los e assim eu tento fazer da melhor forma possível, representando a grande maioria da sociedade capixaba, é claro que não dá pra representar 100% dos capixabas, porque todo mundo tem uma posição, uma forma de pensar, mas aqui, estou representando sempre a grande maioria dos capixabas.

Radar Capixaba: Como o senhor avalia a interferência do STF nas pautas do parlamento brasileiro e qual é o reflexo disso para a democracia?

Marcos do Val: Eu já tenho colocado isso publicamente, é um assunto que se debate muito aqui no congresso, a interferência da posição deles legislando, quer dizer, não fazendo só a defesa da constituição, mas fazendo essa parte do legislativo.

A gente tem ficado muito incomodado com isso, vendo um Superior Tribunal Federal totalmente tendencioso, dependendo de cada momento, de cada etapa do país, é uma decisão diferente, como foi em 2016 uma posição e agora em 2019 outra posição.

Referente à prisão em segunda instância, então não se vê aí uma coerência, unicamente na defesa da constituição, se vê interesses escusos aí.

Estamos tentando muito, a CPI, chamada “CPI da Lava Toga”, para investigar e levantar, quais são os verdadeiros interesses por essas posições que os Ministros têm dado.

A resistência é muito grande, alguns argumentos que, se acontecesse a CPI, o Brasil entra em crise e não é o momento do país entrar em crise, então há uma resistência muito grande do Presidente do Senado a autorizar aí a abertura da CPI e agente fica totalmente de mãos atadas, porque que há um poder muito grande do Presidente do Senado e do Presidente da Câmara dos Deputados, eles que pautam e colocam os que eles quiserem.

Nós estamos até propondo uma alteração no regimento, para que posições como esta, não fique na mão dos Presidentes, mas sim na mesa tanto do Senado, como na mesa da Câmara dos Deputados e essa mesa que defina a abertura de inquéritos e CPIs ou não, tirando da posição do Presidente esta decisão, então o trabalho não é fácil, o STF, está realmente enfraquecendo principalmente o combate à corrupção, eu recebi o a (OCDE) Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico aqui no meu gabinete, e ficou claro que o enfraquecimento ao combate à corrupção tá partindo do Superior Tribunal Federal.