Estado apresenta estratégias de adaptação e descarbonização durante Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
Que o mau uso da água traz implicações ambientais já sabemos, mas a má gestão dos recursos hídricos também pode afetar diretamente a saúde da população e a economia do Estado.
Essa foi uma das reflexões que guiou o debate realizado na última semana, durante a mesa redonda sobre adaptação e mitigação climática na gestão dos recursos hídricos, reunindo especialistas para discutir riscos, cenários futuros e estratégias do Espírito Santo para enfrentar a crise climática.
A atividade integrou a programação do XXVI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos (SBRH), que reunindo pesquisadores, gestores públicos, profissionais do setor produtivo e estudantes no Pavilhão de Carapina, na Serra.
Mediada por Diogo Buarque, doutor em Recursos Hídricos, professor da Ufes e coordenador da Comissão Organizadora Local do SBRH, a mesa redonda “Adaptação e mitigação climática na gestão de recursos hídricos: ações do governo do Espírito Santo” discutiu estratégias do Estado para enfrentar cenários de aumento de temperatura, reduzir riscos climáticos, fortalecer redes de monitoramento e ampliar o financiamento para projetos de descarbonização e resiliência hídrica. Ao comentar sobre os desafios do planejamento hídrico, o mediador destacou que o debate precisa ir além do olhar técnico tradicional.
“As ações de planejamento futuro não podem olhar apenas para a gestão da água ou para a pressão sobre os recursos hídricos. Agora precisamos considerar também os impactos das mudanças climáticas sobre a sociedade, a economia e a saúde”, afirmou.
O subsecretário de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental da Seag, Robson Monteiro, destacou que o Espírito Santo avançou, no último ano, na atualização do Plano Estadual de Descarbonização, que considera diferentes cenários climáticos e os riscos já presentes no território.
Ele explicou que o Estado está estruturando sua Estratégia de Adaptação, com foco não apenas no planejamento estadual, mas também no apoio direto aos municípios. Robson também detalhou a participação capixaba no Consórcio Brasil Verde, iniciativa que busca fortalecer o diálogo com o governo federal e ampliar o acesso dos estados a canais de financiamento climático, alinhando as diretrizes nacionais do Plano Clima às realidades regionais.
Coordenador do Instituto de Estudos Climáticos da UFES/VALE/FAPES e responsável pelo Plano Estadual de Neutralização das Emissões (NetZeroES), Neyval Costa Reis Jr. reforçou o papel estratégico dos municípios na construção das políticas de adaptação. Ele destacou que o Plano Estadual de Adaptação identifica políticas já existentes e aponta lacunas a serem supridas, permitindo que o governo estadual atue como indutor da capacidade local. “A elaboração de Planos Municipais de Redução de Risco deve considerar condições climáticas futuras, garantindo que as cidades se preparem para eventos extremos cada vez mais frequentes”, explicou.
O diretor-presidente da Agerh, Fábio Ahnert, destacou o Fundo Cidades como instrumento ágil e essencial para apoiar os municípios na agenda de adaptação climática. Ele alertou para o desafio nacional relacionado à fragilidade da rede hidrológica, defendendo maior integração entre redes estaduais, setor privado, companhias de saneamento e hidrelétricas, todas importantes fontes de dados.
Fábio ainda ressaltou a importância de aprofundar o conhecimento sobre aquíferos como fonte complementar para o abastecimento, especialmente em regiões onde os rios superficiais já não atendem à demanda. Ele também explicou que a Agerh atua de forma integrada com a agricultura e o sistema de abastecimento para estruturar cenários hidrológicos e orientar investimentos em infraestrutura, barragens e contenção.
Já a diretora do Bandes, Gabriela Vichi de Almeida, apresentou os instrumentos financeiros que o banco tem estruturado para apoiar a agenda climática do Espírito Santo. Ela destacou o Fundo de Descarbonização, principal mecanismo de financiamento do Plano de Descarbonização do Estado, além do papel do Fundo Soberano, que disponibiliza recursos para projetos voltados ao desenvolvimento sustentável.
Gabriela ressaltou que o Bandes já opera uma linha de crédito de R$500 milhões para financiar iniciativas privadas de descarbonização, incluindo projetos de biomassa, eletrificação, mas também em soluções baseadas na natureza, como agricultura e resíduos.
A diretora destacou que o engajamento das empresas é decisivo para acelerar a transição rumo a uma economia de baixo carbono. “Nossa prioridade é colocar o setor privado no centro das ações de mitigação e transformação climática, criando condições para que as empresas invistam, inovem e ampliem seu papel na descarbonização”, finalizou.
O simpósio é promovido pela Associação Brasileira de Recursos Hídricos e conta com apoio da Secretaria de Recuperação do Rio Doce, do Governo do Estado do Espírito Santo e com o patrocínio da Cesan, Vale, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Itaipu Binacional, CBH Paranaíba, FLO-2D, Operador Nacional do Sistema Elétrico e DualBase.
A iniciativa também tem o apoio de diversas instituições e entidades do setor, como Abcon Sindcon, Abema, Abes, ABGE, ABMGeo, Abrage, Aesabesp, Aesas, Agerh, Apac, Apea-ES, Instituto Jones dos Santos Neves, Let’s Atlantica, Rebob, Universidade Federal do Espírito Santo, UFF, UFMG, UFPR, UFRGS, UFRN, Universidade Federal de Santa Maria, Unicamp, Universidade de Brasília, Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico e o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

